segunda-feira, 24 de maio de 2010

Uma foto que não tirei!



         Quando eu tinha 8 anos de idade sonhava em estudar astronomia. Colisão de partículas, de átomos, de pequenos corpos, grandes corpos, galáxias. Esse era meu mundo resumido. Claro, as pessoas riam. Se eu tivesse a fé de quando tinha 8 anos talvez eu teria me tornado astrônoma mesmo. Mas aqueles que riram tiveram tempo suficiente pra tirarem isso da minha cabeça.
         Aos 8 anos de idade meu melhor amigo era um homem de meia idade. Meu tio, pai quando preciso, e meu melhor amigo mais do que todas essas outras coisas. De todas essas obrigações, sua maior foi incumbida por ele mesmo. O de se sentar ao meu lado nas tardes para conversar. O dever de ser o melhor amigo do mundo. O melhor, posso dizer assim, já que eu não tinha nenhum outro. Não que não houvessem crianças da minha idade para brincar, sim, até existiam em grande quantidade. Mas minha timidez aguda só me deixava ficar nos recortes de revistas em quadrinhos. Talvez seja por isso que nunca cheguei a aprender todas as regras da beattes. Acho que tinha vergonha de perguntar.
      Nunca fui  popular na escola, não sei se alguém já tinha reparado alguma vez minha presença na sala ou me visto andando pelos corredores, e se viram não deram tanta importância.
      Escrevi meu 1° livro na 2ª série. Minha professora pediu pra fazer um texto de 10 linhas. 10 linhas? Não, eu não conseguiria me limitar a isso. Escrevi logo um livro, ilustrado e tudo.
        E pela primeira vez fui vista. Minha professora amou tudo que estava escrito ali, chamou todos da escola para apresentar a "menina do livro". Chegou a dizer que mandaria para o filho, jornalista, que estava organizando um concurso de redação infantil em São Paulo. 
       Eu tinha que  tomar uma decisão. Só me restava rasgar e jogar aquelas palavras fora. Ou eu teria que suportar a vida vazia de uma garota popular. Acabei rasgando e jogando fora. Minha popularidade não durou mais que três dias. Não ia suportar mais que isso.
     

Uma cena que não virou foto!